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sexta-feira, maio 25, 2012

entre o mar, a areia e o sol

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Podemos chorar porque te foste,                                      
ou sorrir porque viveste.

Podemos fechar os olhos e rezar para que voltes,
ou abrir os olhos e ver tudo o que nos deixaste                  

O nosso coração pode estar vazio porque não te pode ver,
ou estar cheio do amor que compartilhámos.

Podemos virar costas ao amanhã e viver no ontem,
ou sermos felizes para o amanhã por causa do ontem.

Podemos lembrarmo-nos de ti só porque te foste,
ou engrandecermos a tua memória e viver com ela.

Podemos chorar e fechar a nossa mente,
ficar vazios e virar costas à vida,
ou podemos fazer o que tu querias:
sorrir, abrir os olhos, amar e seguir em frente

sempre com o que partilhámos no nosso coração.


Libertamos-te
entre o mar, a areia e o sol
Libertamos-te
para a dança dos astros e dos planetas
Libertamos-te
nas mãos do fazedor de estrelas e no sopro do vento.

Amamos-te e sentimos muito a tua falta mas queremos-te feliz.
Vai em segurança, vai dançando no vento, vai para casa.

Vai, vai com todo o nosso amor.



tradução/adaptação livre dos poemas:

"You can shed tears that she is gone" by David Harkins
and
"Responses for a Cremation" by Ruth Burgess

Fotografias pessoais

Quando eu morrer...

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De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Esta praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.



                                                            
 
 






Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim                                               
A tua beleza aumenta quando estamos sós.        
E tão fundo, intimamente, a tua voz                        
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.
 

 
                                   
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.


 
 
 
 
 
 
 




Sou eu, ainda, quem na brisa respira
E é por mim que espera cintilando a maré vasa







              



                               Quando eu morrer voltarei para buscar
                               Os instantes que não vivi junto do mar


          


Versos de Sophia Mello Breyner
Fotografias pessoais

terça-feira, maio 22, 2012

Labirinto

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Mauritus Cornelis Escher


Portas que desaguam em novas portas
Corredores, corredores, sem fim, sem fim.
Forças tento encontrar em mim
Para renovar as esperanças mortas.
Toda vida não é assim sem saída?
Sem respostas finjo-me de forte
Porque há esperança tendo vida
E sigo, abrindo portas e fechando,
Lutando, tentando, errando
Por lugares que são sempre iguais.
Só meus próprios passos são audíveis
Em meio ao silêncio e à solidão terríveis
À procura da luz que não verei jamais!


Sílvio Persivo

sábado, maio 19, 2012

o mistério dos rios

.
José Emídio


O mistério
dos rios
é que eles passam
por dentro
de nós
e só depois
desaguam no mar


Francisco Carvalho

sexta-feira, maio 18, 2012

Da vez primeira em que me assassinaram...

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Cecily Brown


Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!


Mário Quintana

quarta-feira, maio 16, 2012

Novos ratos mostram a avidez antiga...

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George Grosz


Cantaremos o desencontro:
O limiar e o linear perdidos
Cantaremos o desencontro:
A vida errada num país errado
Novos ratos mostram a avidez antiga


Sophia de Mello Breyner

quarta-feira, maio 09, 2012

dies irae

.
Marti Carbonell


Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.

Oh! maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas,
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas!


Miguel Torga
Cantado por Luís Cilia 

sábado, maio 05, 2012

o segredo é não correr atrás...

.
Sue Blackwell


O segredo é não correr atrás das borboletas…
É cuidar do jardim
para que elas venham até você.


Mário Quintana

sexta-feira, maio 04, 2012

poemas são pássaros...

.
Sue Blackwell


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...


Mário Quintana