...
sevilha - elmundo.es
O que mais preocupa
não é o grito dos violentos,
nem dos corruptos,
nem dos desonestos,
nem dos sem-carácter,
nem dos sem-ética. . .
o que mais preocupa
é o silêncio dos bons
Martin Luther King
domingo, abril 29, 2007
sábado, abril 28, 2007
Vivesse a Sophia mais uns anos e, decerto, perderia a noção "da lateralidade política"
...
Harold Olejarz
http://www.olejarz.com/art/twohands/index.html
Nestes últimos tempos é certo que a esquerda fez erros
Caiu em desmandos confusões praticou injustiças
Mas que diremos da longa tenebrosa e perita
Degradação das coisas que a direita pratica?
Que diremos do lixo do seu luxo – de seu
Viscoso gozo da nata da vida – que diremos
De sua feroz ganância e fria possessão?
Que diremos de sua sábia e tácita injustiça
Que diremos de seus conluios e negócios
E do utilitário uso dos seus ócios?
Que diremos de suas máscaras álibis e pretextos
De suas fintas labirintos e contextos?
Nestes últimos tempos é certo que a esquerda muita vez
Desfigurou as linhas do seu rosto
Mas que diremos da meticulosa eficaz expedita
Degradação da vida que a direita pratica?
Sophia de Mello Breyner
Harold Olejarz
http://www.olejarz.com/art/twohands/index.html
Nestes últimos tempos é certo que a esquerda fez erros
Caiu em desmandos confusões praticou injustiças
Mas que diremos da longa tenebrosa e perita
Degradação das coisas que a direita pratica?
Que diremos do lixo do seu luxo – de seu
Viscoso gozo da nata da vida – que diremos
De sua feroz ganância e fria possessão?
Que diremos de sua sábia e tácita injustiça
Que diremos de seus conluios e negócios
E do utilitário uso dos seus ócios?
Que diremos de suas máscaras álibis e pretextos
De suas fintas labirintos e contextos?
Nestes últimos tempos é certo que a esquerda muita vez
Desfigurou as linhas do seu rosto
Mas que diremos da meticulosa eficaz expedita
Degradação da vida que a direita pratica?
Sophia de Mello Breyner
quarta-feira, abril 25, 2007
Esta é a madrugada que eu esperava...
terça-feira, abril 24, 2007
acordai!!!
...
Rembrandt - The Nightwatch
.
.
Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz
.
Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações
.
Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!
.
.
Interpretado pelo Coro da Academia dos Amadores de Música
Dirigido e musicado pelo Maestro Fernando Lopes Graça
Poema: José Gomes Ferreira
Rembrandt - The Nightwatch
.
.
Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz
.
Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações
.
Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!
.
.
Interpretado pelo Coro da Academia dos Amadores de Música
Dirigido e musicado pelo Maestro Fernando Lopes Graça
Poema: José Gomes Ferreira
segunda-feira, abril 23, 2007
e porque é dia do livro...
...
Edouard Manet
.
.
(…)
diz que a arte de ler está a morrer muito lentamente,
que é um ritual íntimo,
que um livro é um espelho
e que só podemos encontrar nele
o que já temos cá dentro,
que ao lermos aplicamos a mente e a alma,
e estes são bens cada dia mais escassos.
(…)
.
.
Carlos Ruiz Zafón
in: A Sombra do Vento
canção de mágoa - tantos sonhos esquecidos...
...
Joe Sorren
.
.
Tantos sonhos esquecidos
perdidos no pó da estrada
tantos dias tantas noites
à espera da madrugada
.
o que foi feito de nós
companheiros de viagem
que é da nossa liberdade
feita de fé e coragem
.
vai-se o tempo e nós aqui
adormecidos no cais
entretidos com o medo
de já ser tarde demais
.
teimosamente morrendo
por detrás desta janela
a fingir que somos livres
com um cravo na lapela.
.
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Vieira da Silva
domingo, abril 22, 2007
(novo) pranto pelo(s) dia(s) de hoje
...
Joe Sorren
.
.
Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruido
Por troças, por insídias, por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que nem podem sequer ser bem descritas
.
.
Sophia de Mello Breyner
quinta-feira, abril 19, 2007
momento...
...
Piet Mondriaan (?)
.
.
Nenhum sopro de ausência. Só a paixão
suave
de um sol íntimo
no seu ninho verde e alaranjado.
Simplicidade de substância volátil,
desejo no seu silêncio,
luxo indolente, frescura de vértebras solares.
Intimidade perfeita
e que demora numa cândida estância.
Tudo se tornou interno neste espaço interior,
na delícia extrema de um sossego de folhas.
O que era fugaz converteu-se em tempo enamorado
e em tranquila doçura de hábitos.
.
.
António Ramos Rosa
António Ramos Rosa
segunda-feira, abril 16, 2007
domingo, abril 15, 2007
uivam lobos...
sábado, abril 14, 2007
Cresce o mal cos anos
...
Israel Zzepda
Vai o bem fugindo
Cresce o mal cos anos
Vão-se descobrindo
Co tempo os enganos
Amor e alegria
Menos tempo dura
Triste de quem fia
Nos bens da ventura
Ai ventura minha
Como me negaste
Um só bem que tinha
Porque mo roubaste
Alegre vivia
Triste vivo agora
Canta a alma de dia
E de noite chora
O campo floresça
Murmurem as águas
Tudo me entristeça
Cresçam minhas máguas
Confesso os enganos
Do meu pensamento
Bem de tantos anos
Foi-se num momento
Luís de Camões
Israel Zzepda
Vai o bem fugindo
Cresce o mal cos anos
Vão-se descobrindo
Co tempo os enganos
Amor e alegria
Menos tempo dura
Triste de quem fia
Nos bens da ventura
Ai ventura minha
Como me negaste
Um só bem que tinha
Porque mo roubaste
Alegre vivia
Triste vivo agora
Canta a alma de dia
E de noite chora
O campo floresça
Murmurem as águas
Tudo me entristeça
Cresçam minhas máguas
Confesso os enganos
Do meu pensamento
Bem de tantos anos
Foi-se num momento
Luís de Camões
quinta-feira, abril 12, 2007
Se tudo o que há é mentira...
...
Mauritus Cornelis Escher
Se tudo o que há é mentira
É mentira tudo o que há.
De nada nada se tira,
A nada nada se dá.
Se tanto faz que eu suponha
Uma coisa ou não com fé,
Suponho-a se ela é risonha,
Se não é, suponho que é.
Que o grande jeito da vida
É pôr a vida com jeito.
Fana a rosa não colhida
Como a rosa posta ao peito.
Mais vale é o mais valer,
Que o resto ortigas o cobrem
E só se cumpra o dever
Para que as palavras sobrem.
Fernando Pessoa
Mauritus Cornelis Escher
Se tudo o que há é mentira
É mentira tudo o que há.
De nada nada se tira,
A nada nada se dá.
Se tanto faz que eu suponha
Uma coisa ou não com fé,
Suponho-a se ela é risonha,
Se não é, suponho que é.
Que o grande jeito da vida
É pôr a vida com jeito.
Fana a rosa não colhida
Como a rosa posta ao peito.
Mais vale é o mais valer,
Que o resto ortigas o cobrem
E só se cumpra o dever
Para que as palavras sobrem.
Fernando Pessoa
domingo, abril 08, 2007
todos os homens são maricas quando estão com gripe
...
Sam Taylor-Wood's
Todos os homens são maricas quando estão com gripe (pasodoble)
Pachos na testa
terço na mão
uma botija
chá de limão
zaragatoas
vinho com mel
três aspirinas
creme na pele
grito de medo
chamo a mulher
ai Lurdes Lurdes
que vou morrer
mede-me a febre
olha-me a goela
cala os miúdos
fecha a janela
não quero canja
nem a salada
ai Lurdes Lurdes
não vales nada
se tu sonhasses
como me sinto
já vejo a morte
nunca te minto
já vejo o inferno
chamas diabos
anjos estranhos
cornos e rabos
vejo os demónios
nas suas danças
tigres sem listras
bodes de tranças
choros de coruja
risos de grilo
ai Lurdes Lurdes
que foi aquilo
não é chuva
no meu postigo
fica comigo
não é vento
a cirandar
nem são as vozes
que vêm do mar
não é o pingo
de uma torneira
põe-me a santinha
à cabeceira
compõe-me a colcha
fala ao prior
pousa o Jesus
no cobertor
chama o doutor
passa a chamada
ai Lurdes Lurdes
nem dás por nada
faz-me tisanas
e pão-de-ló
não te levantes
que fico só
aqui sózinho
a apodrecer
ai Lurdes Lurdes
que vou morrer.
António Lobo Antunes
Sam Taylor-Wood's
Todos os homens são maricas quando estão com gripe (pasodoble)
Pachos na testa
terço na mão
uma botija
chá de limão
zaragatoas
vinho com mel
três aspirinas
creme na pele
grito de medo
chamo a mulher
ai Lurdes Lurdes
que vou morrer
mede-me a febre
olha-me a goela
cala os miúdos
fecha a janela
não quero canja
nem a salada
ai Lurdes Lurdes
não vales nada
se tu sonhasses
como me sinto
já vejo a morte
nunca te minto
já vejo o inferno
chamas diabos
anjos estranhos
cornos e rabos
vejo os demónios
nas suas danças
tigres sem listras
bodes de tranças
choros de coruja
risos de grilo
ai Lurdes Lurdes
que foi aquilo
não é chuva
no meu postigo
fica comigo
não é vento
a cirandar
nem são as vozes
que vêm do mar
não é o pingo
de uma torneira
põe-me a santinha
à cabeceira
compõe-me a colcha
fala ao prior
pousa o Jesus
no cobertor
chama o doutor
passa a chamada
ai Lurdes Lurdes
nem dás por nada
faz-me tisanas
e pão-de-ló
não te levantes
que fico só
aqui sózinho
a apodrecer
ai Lurdes Lurdes
que vou morrer.
António Lobo Antunes
sábado, abril 07, 2007
Confidencial
...
Wilson Irvine
Não me perguntes, porque nada sei
Da vida,
Nem do amor,
Nem de Deus,
Nem da morte.
Vivo,
Amo,
Acredito sem crer,
E morro, antecipadamente
Ressuscitando.
O resto são palavras
Que decorei
De tanto as ouvir.
E a palavra
É o orgulho do silêncio envergonhado.
Num tempo de ponteiros, agendado,
Sem nada perguntar,
Vê, sem tempo, o que vês
Acontecer.
E na minha mudez
Aprende a adivinhar
O que de mim não possas entender.
Miguel Torga
Wilson Irvine
Não me perguntes, porque nada sei
Da vida,
Nem do amor,
Nem de Deus,
Nem da morte.
Vivo,
Amo,
Acredito sem crer,
E morro, antecipadamente
Ressuscitando.
O resto são palavras
Que decorei
De tanto as ouvir.
E a palavra
É o orgulho do silêncio envergonhado.
Num tempo de ponteiros, agendado,
Sem nada perguntar,
Vê, sem tempo, o que vês
Acontecer.
E na minha mudez
Aprende a adivinhar
O que de mim não possas entender.
Miguel Torga
sexta-feira, abril 06, 2007
todas as casas deviam ter...
...
Marc Chagall
.
.
Todas as casas deviam ter uma varanda para o mar
Para que as manhãs acordassem no velame inquieto da claridade
Para que as manhãs acordassem no velame inquieto da claridade
E as sombras fundeassem frescas pelas paredes opacas do meio-dia
E os entardeceres rebentassem em sotaventos de crepúsculo num quarto
Todas as casas deviam ter uma varanda para o mar
Ou uma janela...
Todas as casas deviam ter uma varanda para o mar
Ou uma janela...
Ou um parapeito...
Um olhar...
Um olhar...
..
.Sandra Costa
.Sandra Costa
quinta-feira, abril 05, 2007
mas solitários somos e passamos...
...
Odilon Redon
Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.
Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.
Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.
Sophia de Mello Breyner
Odilon Redon
Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.
Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.
Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.
Sophia de Mello Breyner
quarta-feira, abril 04, 2007
terça-feira, abril 03, 2007
abrigo-me...
segunda-feira, abril 02, 2007
é a força sem fim de duas bocas que se juntam...
...
Lia Knapp
.
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Congresso de gaivotas neste céu
Como uma tampa azul cobrindo o Tejo.
Querela de aves, pios, escaracéu.
Ainda palpitante voa um beijo.
.
Donde teria vindo! (não é meu...)
Donde teria vindo! (não é meu...)
De algum quarto perdido no desejo?
De algum jovem amor que recebeu
Mandado de captura ou de despejo?
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É uma ave estranha: colorida,
É uma ave estranha: colorida,
Vai batendo como a própria vida,
Um coração vermelho pelo ar.
.
.
E é a força sem fim de duas bocas,
De duas bocas que se juntam, loucas!
De inveja as gaivotas a gritar...
.
.
Alexandre O'Neill
domingo, abril 01, 2007
trazias em ti outro jardim possível e perdido
...
Odilon Redon
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Jardim em flor, jardim de impossessão,
Transbordante de imagens mas informe,
Em ti se dissolveu o mundo enorme,
Carregado de amor e solidão.
.A verdura das arvores ardia,
O vermelho das rosas transbordava
Alucinado cada ser subia
Num tumulto em que tudo germinava.
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A luz trazia em si a agitação
De paraísos, deuses e de infernos,
E os instantes em ti eram eternos
De possibilidades e suspensão.
.
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Mas cada gesto em ti se quebrou, denso
Dum gesto mais profundo em si contido,
Pois trazias em ti sempre suspenso
Outro jardim possível e perdido.
.
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Sophia de Mello Breyner
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