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Daniel Bueno
Para ver quanta fé perdida
E quanta miséria sem par
Há neste orbe, atroz ruim
Pus-me à janela da vida
E alonguei o meu olhar
P´lo vasto Mundo sem fim.
Pus todo o meu sentimento
Na mágoa que não se aparta
Do que mais nos desconsola;
E assim a cada momento
Vi buçaes comendo à farta
E génios pedindo esmola!
Vi muitas vezes a razão
Por muitos posta de rastos,
E a mentira em viva chama;
Até por triste irrisão,
Vi nulidades nos astros
E vi ciências na lama!...
Vi dar aos ladrões, valores,
Vi sentimentos perdidos
Nas que passam por honradas,
Vi cinismos vencedores,
Muitos heróis esquecidos
E vaidades medalhadas!
Vi, no torpor mais imundo,
Profundas crenças caindo
E maldições ascendendo;
Tudo vi, por esse mundo:
Vi miseráveis subindo
E homens honrados descendo!
Esse é rico, e não tem filhos
Que os filhos não dão prazer
A certa gente de bem.
Aquele tem duros trilhos
Mas é capaz de morrer
P´los filhinhos que tem!
Esta é rica em frases ledas,
Diz-se a mais casta donzela,
Mas a honra onde ela vai!…
Aquela não veste sedas,
Mas os garotitos dela,
São filhos do mesmo pai!
Por isso afirmo conciso,
Que p´ra na vida ter sorte,
Não basta a fé decidida;
P´ra ser feliz, é preciso
Ser canalha até à morte,
Ou não pensar mais na vida!
Letra de: Carlos Conde (1920)
Música e Interpretação: Alfredo Marceneiro
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