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Julius Stewrt
a sala da minha avó guarda encantos e memórias
conservados em saudade
sons de sorrisos velados, perfumes das quintas feiras
- às cinco em ponto era o chá -
vinham as tias solteiras e um senhor de panamá
que falava em liberdade....
bem ocultas sob o pó dormem antigas histórias
dois sofás de velho couro
jornais do tempo da guerra
da fome e da incerteza
um vaso apenas com terra
junto ao isqueiro de ouro
os cachimbos do avô
dormem soltos sobre a mesa recoberta de tricot
pelas paredes espalhados
quadros a óleo suspendem
parentes desconhecidos
de largo bigode hostil
comendadores no Brasil ... era o tempo de emigrar...
e ainda paira no ar
o odor adocicado dos charutos apagados
a secretária de alçado
postada a um canto, sombria
sob o relógio parado,
ainda hoje vigia
os papéis e o passado
fecho a porta de mansinho, deixo as cortinas cerradas
no silêncio que transborda, de saudade, de carinho,
ouço o relógio sem corda
dar as cinco badaladas...
e depois... chorar baixinho
J. M. Restivo Braz
in: http://pwp.netcabo.pt/JMRB/default.htm
2 comentários:
Uma saudade de um tempo em que a vida corria devagar e era mais bela.
É a primeira vez que aqui venho Maria Lisboa. Gostei muito. Parabéns.
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